quarta-feira, 15 de maio de 2013

Maria Joana de Oliveira ("Titia" ou "Bisa")



 


         Maria Joana de Oliveira, a quem eu chamava de “Bisa” era natural do distrito de Jenipapo (Extremoz/RN), mas teve outros endereços até fixar-se na Rua do Cruzeiro, bairro da Redinha.
         Era filha única de Leolino José de Oliveira e Francisca Cândida de Oliveira. Nasceu no final do Século XIX e faleceu em setembro de 1984.
       
        
         Eis alguns textos de autoria de sua neta Núbia Sulamita da Silva Gameleira:





Histórico de Maria Joana de Oliveira (Titia)

Titia nasceu no final do Século XIX. Era uma criatura simples, de média estatura, pele morena, cabelos cacheados e negros, corajosa e destemida. Enfrentou a vida com bravura. Era católica e tinha em sua casa varias imagens de madeira de santos de sua devoção. Sua casa era simples, mas aconchegante. No inicio era coberta de palha, com chão de areia bem alvinha.
Teve apenas uma filha que se chamava Maria. Não chegou a conhecer o seu pai, pois diziam que ele fora à procura de um novo rumo para a vida, lá para as bandas de Goiás e nunca mais voltou.
Titia morou em algumas localidades como Ceará-Mirim, onde nasceu sua filha Maria, Boca da Ilha, Pajuçara e Redinha.
Na Redinha onde sempre trabalhou em atividades do lar, Titia criava galinhas e vendia ovos. Fazia bicos e rendas em almofada com “bilros”. Fazia bolos, pé-de-moleque, grude e outros quitutes fornecidos e vendidos para o mercado local.

 "Renda de Bilros"


       Nas tardes e noites de verão com a lua clareando as areias mornas da praia da Redinha ou do Rio Doce, era ali o ponto de encontro para as conversas, bate papos, historinhas e “contos da carochinha” que Titia e as amigas (Beliza, Doralice, comadre Inez, Dona Mônica) se empenhavam em contá-las para a criançada (filhos, netos, amigos) que se aconchegavam sobre o olhar da Lua, deslumbrados com as “estórias” e “causos”. Deliciavam-se com o quebrar das ondas mornas do mar, molhando suavemente os pés e soltando os barquinhos de papel.
 A brisa mansa que soprava afagando os cabelos e serpenteando as “pipas” ou “corujas” (brinquedo de papel armado com palitos de coqueiro) confeccionadas pela criançada.
Os netos de Titia (Dona Mariazinha) desfrutavam destas maravilhas nos poucos dias de final de ano por ocasião das férias escolares. Havia um revezamento e cada um passava apenas setes dias.

        Aquela localidade simples e até então tranquila (1960/1970) faz-nos reportar a uma infância feliz.  


 Foto antiga da Redinha. Ao centro destaca-se a "Igreja de Pedra" - (Fonte: papjerimum.blogspot.com.br)



Passeio predileto nas segundas-feiras.

Titia saía nas primeiras horas da manhã da Redinha, pegava a "Lancha" ou barco que conduzia passageiros da Redinha até o cais localizado na Av. Tavares de Lira (Ribeira). Era uma animação total. Os barcos vinham empilhados de pessoas, fardos com batatas, macaxeiras, verduras, papagaios, animais diversos que os feirantes traziam para vender na feira das Rocas. Durante o trajeto de volta, as pessoas, movidas por um entusiasmo recíproco, comentavam sobre o que compraram e o que venderam.
Aquele era um momento de encontro e visitas alegres entre as pessoas das varias localidades de Natal, sobretudo Zona Norte.
Algumas pessoas iam ao médico, à procura de consulta no Hospital dos Pescadores. Outras procuravam consulta com um "farmacêutico": seu Geraldo,  que tinha uma Farmácia muito conceituada no pátio da feira das Rocas. Havia também Joãozinho, um "enfermeiro" que aplicava injeções e fazia curativos.
Quando Titia chegava a nossa casa nas Rocas, sentava em um cantinho do quintal debaixo de um pé de pimenta darda e lá acendia o seu cachimbinho*, dava algumas tragadas e começava a distribuir com a filha Mariinha e netos os presentes que ela carinhosamente os fazia. Eram bicos de linha feitos nas almofadas utilizando os bilros. Eram lindos, bem alvinhos.

*O fumo que Titia colocava no cachimbo tinha que ser bem escolhido e de boa qualidade, comprado a um conceituado feirante, não lembro o nome.
Obs. 01-  Nós a chamávamos de Titia, porque ela assim preferia e por força do habito, pois nossa casa era frequentada por varias “tias” irmãs do nosso pai. Titia Mariazinha era nossa avó, filha única. Nossa mãe também era filha única. Penso que a minha bisavó, também era filha única.

Obs.. 02- A minha avó (Titia) tinha muitos irmãos, todos adotivos.


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O Compadre Nascimento
(Década de 1950/1960)

As visitas com Titia ao Compadre Nascimento eram fraternas e rebuscadas de “contos de causos”. Compadre Nascimento era alto, magro, olhos claros, usava sempre uma camisa de mangas longas em “mescla” num tom azul celeste, calças compridas, sandálias de couro cru ou botas, um chapéu com abas largas sobre a cabeça. Sempre estava na lida, e à primeira vista parecia-nos sisudo e enérgico, mas logo nas primeiras prosas percebíamos o seu jeito carismático simples e de valor inestimável.
 As pessoas que faziam parte daquela família eram simples, alegres e gentis, sempre que chegávamos, apressavam-se a nos oferecer frutas e o almoço, preparados com gêneros plantados ou criados naquele sítio. Havia um prato predileto: tijuaçu torrado no óleo.
Era um lugar lindo cheio de pássaros e animais nativos, saltitantes e alegres cantarolando nos galhos das árvores frutíferas que davam um tom de beleza impar aquelas encostas do Rio Doce que serpenteava toda aquela área formando meandros com suas águas cristalinas e aquecidas pelo Sol do verão.

(Textos de Núbia Sulamita da Silva Gameleira
via e-mail em Maio de 2013)


 
Rua do Cruzeiro. Março de 2016 


 
A casa onde a "Bisa" morou é a segunda, a partir da esquina!