Maria Joana de Oliveira, a quem
eu chamava de “Bisa” era natural do distrito de Jenipapo (Extremoz/RN), mas
teve outros endereços até fixar-se na Rua do Cruzeiro, bairro da Redinha.
Era filha única de Leolino José
de Oliveira e Francisca Cândida de Oliveira. Nasceu no final do Século XIX e faleceu em setembro de 1984.
Eis alguns textos de autoria de sua neta Núbia Sulamita da Silva Gameleira:
Histórico de Maria Joana de
Oliveira (Titia)
Titia
nasceu no final do Século XIX. Era uma criatura simples, de média estatura,
pele morena, cabelos cacheados e negros, corajosa e destemida. Enfrentou a vida
com bravura. Era católica e tinha em sua casa varias imagens de madeira de
santos de sua devoção. Sua casa era simples, mas aconchegante. No inicio era
coberta de palha, com chão de areia bem alvinha.
Teve apenas uma filha que se
chamava Maria. Não chegou a conhecer o seu pai, pois diziam que ele fora à
procura de um novo rumo para a vida, lá para as bandas de Goiás e nunca mais
voltou.
Titia
morou em algumas localidades como Ceará-Mirim, onde nasceu sua filha Maria, Boca
da Ilha, Pajuçara e Redinha.
Na Redinha onde sempre trabalhou
em atividades do lar, Titia criava galinhas e vendia ovos. Fazia bicos e rendas
em almofada com “bilros”. Fazia bolos, pé-de-moleque, grude e outros quitutes
fornecidos e vendidos para o mercado local.
"Renda de Bilros"
Nas tardes e noites de verão com a lua clareando
as areias mornas da praia da Redinha ou do Rio Doce, era ali o ponto de
encontro para as conversas, bate papos, historinhas e “contos da carochinha”
que Titia e as amigas (Beliza,
Doralice, comadre Inez, Dona Mônica) se empenhavam em contá-las para a
criançada (filhos, netos, amigos) que se aconchegavam sobre o olhar da Lua,
deslumbrados com as “estórias” e “causos”. Deliciavam-se com o quebrar das
ondas mornas do mar, molhando suavemente os pés e soltando os barquinhos de
papel.
A brisa mansa que soprava afagando os cabelos
e serpenteando as “pipas” ou “corujas” (brinquedo de papel armado com palitos
de coqueiro) confeccionadas pela criançada.
Os netos de Titia (Dona
Mariazinha) desfrutavam destas maravilhas nos poucos dias de final de ano por
ocasião das férias escolares. Havia um revezamento e cada um passava apenas
setes dias.
Aquela localidade simples e até então
tranquila (1960/1970) faz-nos reportar a uma infância feliz.
Foto antiga da Redinha. Ao centro destaca-se a "Igreja de Pedra" - (Fonte: papjerimum.blogspot.com.br)
Passeio predileto nas
segundas-feiras.
Titia saía nas primeiras horas da manhã da Redinha, pegava
a "Lancha" ou barco que conduzia passageiros da Redinha até o cais
localizado na Av. Tavares de Lira (Ribeira). Era uma animação total. Os
barcos vinham empilhados de pessoas, fardos com batatas, macaxeiras, verduras,
papagaios, animais diversos que os feirantes traziam para vender na feira das
Rocas. Durante o trajeto de volta, as pessoas, movidas por um entusiasmo
recíproco, comentavam sobre o que compraram e o que venderam.
Aquele era um momento de encontro e visitas
alegres entre as pessoas das varias localidades de Natal, sobretudo Zona
Norte.
Algumas pessoas iam ao médico, à procura de consulta no Hospital dos
Pescadores. Outras procuravam consulta com um "farmacêutico": seu Geraldo,
que tinha uma Farmácia muito conceituada no pátio da feira das Rocas. Havia
também Joãozinho, um "enfermeiro" que aplicava injeções e fazia
curativos.
Quando Titia chegava a nossa casa nas Rocas, sentava em um
cantinho do quintal debaixo de um pé de pimenta darda e lá acendia o seu
cachimbinho*, dava algumas tragadas e começava a distribuir com a filha
Mariinha e netos os presentes que ela carinhosamente os fazia. Eram bicos
de linha feitos nas almofadas utilizando os bilros. Eram lindos, bem alvinhos.
*O fumo que Titia colocava no
cachimbo tinha que ser bem escolhido e de boa qualidade, comprado a um
conceituado feirante, não lembro o nome.
Obs. 01- Nós a chamávamos de Titia, porque ela assim
preferia e por força do habito, pois nossa casa era frequentada por varias “tias”
irmãs do nosso pai. Titia Mariazinha era nossa avó, filha única. Nossa mãe
também era filha única. Penso que a minha bisavó, também era filha única.
Obs.. 02- A minha
avó (Titia) tinha muitos irmãos, todos adotivos.
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O Compadre Nascimento
(Década de 1950/1960)
As visitas com
Titia ao Compadre Nascimento eram
fraternas e rebuscadas de “contos de causos”. Compadre Nascimento era alto,
magro, olhos claros, usava sempre uma camisa de mangas longas em “mescla” num
tom azul celeste, calças compridas, sandálias de couro cru ou botas, um chapéu
com abas largas sobre a cabeça. Sempre estava na lida, e à primeira vista
parecia-nos sisudo e enérgico, mas logo nas primeiras prosas percebíamos o seu
jeito carismático simples e de valor inestimável.
As pessoas que faziam parte daquela família
eram simples, alegres e gentis, sempre que chegávamos, apressavam-se a nos
oferecer frutas e o almoço, preparados com gêneros plantados ou criados naquele
sítio. Havia um prato predileto: tijuaçu torrado no óleo.
Era um lugar lindo
cheio de pássaros e animais nativos, saltitantes e alegres cantarolando nos
galhos das árvores frutíferas que davam um tom de beleza impar aquelas encostas
do Rio Doce que serpenteava toda aquela área formando meandros com suas águas
cristalinas e aquecidas pelo Sol do verão.
(Textos
de Núbia Sulamita da Silva Gameleira
via
e-mail em Maio de 2013)
Rua do Cruzeiro. Março de 2016
A casa onde a "Bisa" morou é a segunda, a partir da esquina!
Rua do Cruzeiro. Março de 2016
A casa onde a "Bisa" morou é a segunda, a partir da esquina!